[A
seguir a tradução de um artigo fantástico sobre a morte do manifestante
palestino Mustafa Tamimi, de 28 anos, publicado no jornal Hareetz (um
dos principais de Israel).]
"O
porta-voz do exército estava certo – Mustafa morreu atirando pedras;
morreu porque ousou expressar uma verdade, com as suas mãos, em um lugar
onde a verdade é proibida”.
Mustafa
Tamimi atirava pedras. Sem desculpas e, às vezes, sem medo. Não só
naquele dia, mas quase toda sexta-feira. Ele também escondia o rosto.
Não por medo da prisão, que já tinha vindo a conhecer intimamente, mas
para preservar a sua liberdade, para que ele pudesse jogar pedras e
resistir ao roubo de suas terras. Ele continuou fazendo isso até a hora
da sua morte.
Segundo o jornal britânico The Daily Telegraph,
em resposta aos relatórios dos disparos recebidos por Tamimi, o
porta-voz do Comando Sul GOC perguntava em sua conta no Twitter:
“O que Mustafa estava fazendo correndo atrás de um jipe em movimento enquanto jogava pedras? #fail”.
Assim, tão simples e ironicamente, o porta-voz explicava porque Tamimi foi responsável pela sua própria morte.
Mustafa
Tamimi, do povoado de Nabi Saleh - filho de Ikhlas e Abd al-Razak,
irmão de Saddam, Ziad e Ola e dos gêmeos Oudai e Louai - foi baleado na
cabeça à queima-roupa.
Poucas
horas depois, às 9h21 do sábado [10 de dezembro] pela manhã, morria não
resistindo aos ferimentos. Uma granada de gás lacrimogêneo foi
disparada contra ele a partir de um jipe militar blindado a uma
distância de poucos metros. Não foi por medo que a pessoa que disparou o
tiro puxou o gatilho. Ele colocou o cano do rifle ao lado da porta do
veículo blindado com uma intenção clara. O atirador é um soldado. Sua
identidade ainda é desconhecida e pode permanecer desconhecida para
sempre. Talvez esta seja a melhor opção. Identificá-lo e puni-lo só
serviria para branquear os crimes de todo o sistema. Como se é
indiferente se o civil israelense, o Sargento, o Comandante da
companhia, o Comandante do batalhão, o Ministro da Defesa e o
Primeiro-Ministro não houvessem tomado parte em sua morte.
O
porta-voz do Exército estava certo. Mustafa morreu porque atirava
pedras; morreu porque ousou expressar uma verdade, com as suas mãos, em
um lugar onde a verdade é proibida. Em qualquer discussão de como
ocorreu o disparo, sua legalidade e as ordens para abrir fogo, segue-se
que o proprietário da terra é proibido de expulsar o invasor. Na
verdade, o invasor tem permissão para disparar sobre o proprietário.
O
corpo de Mustafa está sem vida, porque ele teve a coragem de atirar
pedras durante o 24º aniversário da Primeira Intifada, que gerou as
crianças palestinas das pedras. Seu irmão Oudai está preso na Prisão de
Ofer e não obteve a permissão para assistir ao funeral, porque ele
também se atreveu a atirar pedras. E a sua irmã não teve a permissão
para estar ao lado dele durante seus últimos momentos de vida, já que
embora não seja suspeita de atirar pedras, é palestina.
Mustafa
era um homem corajoso, assassinado porque atirou pedras e se recusou a
ficar com medo na frente dos soldados armados, sentados com segurança em
um jipe militar coberto de armadura. No dia que Mustafa morreu, o
silêncio gelado que percorria o vale só foi um pouco menos terrível do
que o som dos gritos e lamentos de sua mãe que caiam ocasionalmente
sobre ele.
Milhares
de atiradores de pedras o seguiram em seu funeral. Ele desceu para seu
túmulo e as pedras cobriram o seu corpo. Soldados israelenses esperavam
na entrada do seu povoado. Mesmo a agonia e a solidão da separação eram
intoleráveis para o exército, que liberou seus soldados e armas para
pulverizar os sofridos palestinos com gás lacrimogêneo enquanto se
dirigiam para as terras do povoado após o funeral. Enquanto que o
soldado que atirou em Mustafa segue em liberdade, seis dos manifestantes
foram colocados atrás das grades.
Mustafa,
caminhamos atrás de seu corpo cabisbaixos e de olhos cheios de
lágrimas. Apreciamos-te porque morreste por atirar pedras e nós não.
"O
porta-voz do exército estava certo – Mustafá morreu atirando pedras;
morreu porque ousou expressar uma verdade, com as suas mãos, em um lugar
onde a verdade é proibida”.
por Jonathan Pollak
Vídeo do assassinato de Mustafa, imagens fortes: